Ataques sobre o Roque


Este tema não é, por certo, uma novidade. Tem sido considerado pela maioria dos técnicos, e com frequência preocupa quem pretende compreender os aparentes mistérios estratégicos do jogo. Também tem outro aspecto que o faz agradável de ler e considerar que é o objetivo direto de dar mate, e os procedimentos tão impressionantes (sacrifícios e jogadas de iniciativa) que fazem este tema bonito e de fácil compreensão.

O Ataque direto sobre o Rei

O sacrifício é a nota vibrante do xadrez, tem o brilho que embeleza a antiga guerra, onde se lutava de frente e cara a cara, o que sem dúvida era menos hábil que o atual, porém muito mais digno e emocionante. Eram problemas de vida e morte, e os ataques sobre o roque em xadrez são sinais disto. Neles, se lutam abertamente em busca de uma vitória, com planos claros que o adversário conhece e que em muitos casos não pode evitar. Mas estas combinações não são misteriosas e podem se explicadas.

Para efetuar um ataque sobre o roque é fácil estabelecer alguns princípios estratégicos indispensáveis para que o ataque tenha perspectivas de êxito. Vejamos estes princípios:

Os pontos atacáveis

As características do roque que se deseja atacar assinalam o tipo do ataque que se deve lançar. Se o roque esta debilitado (com peão avançado) a maneira de ataca-lo consiste no avanço dos próprios peões. Se é um roque com a configuração perfeita (todos os peões em sua casa inicial), o meio para debilita-lo é mais perigoso para que ataca: o sacrifício de material.
Nos ocuparemos primeiro e exclusivamente deste tipo de ataque e estabeleceremos alguns princípios estratégicos indispensáveis para realiza-lo.

1º - Quem ataca deve possuir vantagem de espaço no centro do tabuleiro, o que equivale a dizer que deve dominar o maior número de casas que o adversário.

2º Possuir um peão em e5 contra um peão em e6 do adversário é uma das posições típicas de ataque sobre o roque.

3º A importância do princípio anterior esta em que o peão em e5 elimina a casa de f6 do cavalo adversário, peça que defende quase definitivamente o ataque sobre o roque.

4º Deve-se dominar alguma diagonal sobre o roque e deve possuir, na generalidade dos casos, o próprio cavalo em f3.

5º A existência do bispo do rei, que é o bispo mais agressivo ao ponto h7 inimigo.

6º Isto pode completar e até substituir a posição das colunas abertas sobre o roque adversário.

7º Quando isto não é possivel, se deve substituir com a colocação das torres na terceira linha. Isto para os ataques por meio de peças, quando os peões do que ataca permanecem imóveis, que é o tipo de ataque rápido do qual vamos nos ocupar.

8º O domínio das casa f6,g6 e h6 que assegura o êxito de qualquer ataque.

9º O domínio da quinta horizontal, especialmente a colocação de um cavalo em f5,h5 ou g5 nesta mesma ordem de importância.

10º Vantagem de material móvel na ala que se desenvolve o ataque.











Position after:

1.e4 e5 2.Cc3 Cf6 3.Bc4 Cxe4 Antiga variante das negras contra a abertura Vienense, que tem o defeito de tirar o cavalo de seu ponto natural f6. Este detalhe, agora sutiel, é a primeira pista de que Meises se posiciona para ganhar a partida 4.Dh5 [4.Cxe4 d5] 4...Cd6 Isto apoia o ponto f7, ataca o bispo e remedeia a situação, mas tem um defeito fundamental: retira o cavalo da casa f6 e o compromete para o caso de um eventual roque. 5.Bb3 Be7 6.d3 0-0 Esta jogada das negras equivale a um desafio. É um roque que viola alguns princípios fundamentais que esboçamos. As negras não possuem o cavalo em f3 e seu roque adquire, por isso, o máximo de vulnerabilidade. Estão pior desenvolvidas e tem dificuldades para levar as peças a defesa por obstrução que o cavalo faz em d6. 7.Cf3 Cc6 8.Cg5 As brancas se ajustam em um todo a procedimento clássico para atacar. Agora, mediante a aplicação do princípio nove (domínio da quinta fila) começa o ataque, que logo derivará sobre outros típicos temas de ofensiva sobre o roque. 8...h6 As negras são obrigadas a acentuar sua debilidade 9.h4! Outro método típico. Agora se apoia o cavalo sacrificando-o, mas para conseguir abrir a coluna h e permitir que, em troca de um cavalo perdido, atue a torre, Como se vê, uma generosidade perigosa. 9...Ce8 As negras tentam reparar a falha estratégica. Procuram situar i cavalo em f6 para rechaçar a ofensiva e facilitar o avanço do PD e permitir que o BD atue. 10.Cd5 planejando a combinação clássica. 10...Cf6 As negras tem procurado levar o cavalo a f6 mas já é tarde. Agora Mieses apela também a um recurso clássico neste tipo de posição, que tem seu êxito no oitavo princípio. Entregará a dama na casa g6 para abrir a diagonal grande ao bispo e preparar um mate magnífico. 11.Dg6!! A superioridade em espaço e a racional disposição das peças no ataque fazem possivel esta jogada aparentemente surpreendente. 11...fxg6 [11...hxg5 12.hxg5] 12.Cxe7+ Rh8 13.Cxg6# 1-0