Vantagem de espaço e sua consequência no ataque
Veremos mais uma vez o mestre austríaco Spielmann demonstrando com seus exemplos a força do recurso estratégico nas posições abertas do sacrifício de material, não tendo o mate como meta, mas limitar o campo de réplica do adversário, assegurar vantagem em tempo e espaço e obrigar o adversário (para safar-se do ataque) a devolver generosamente o sacrifício. Observaremos que quem ataca, nestas posições, tem superioridade de peças móveis e que dispõe de alguma linha aberta ou possibilidade de conquista-la. Desta maneira, chega-se a máximo da eficiência das forças e assim criam vital importância e o máximo de seu poderio Se um jogador possui uma torre e um bispo nos pontos culminantes de sua eficiência, e tem a possibilidade de atacar mediante a ação conjugada destas peças, entregar um peão para chegar ao ataque não é um ato temerário, mas inteligente.
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Spielmann -
Grunfeld [C33]
1.e4 e5 2.f4 exf4 As negras aceitam o gambito desejosas de provar que para a técnica moderna este tipos de ataques rudimentares, cujo fundamento é deficiência em f7, nada significam. Grunfeld deve ter sentido um pouco de repugnância ao entrar nesta abertura e quis castigar a ousadia de Spielmann. [Melhor que aceitar o gambito, que obriga a saber muitas variantes, é simplesmente seguir com 2...d5 chamado contra-gambito Falkbeer.] 3.Bc4 [habitualmente se joga aqui 3.Cf3 por temor ao xeque da dama em h4. Mas a experiência tem provado que as brancas, mediante a aparente desagradável jogada 4.Rf1, ficam com grandes recursos de contra-ataque, pelas perdas de tempo que se derivam da situação da dama em h4. 3...Cc6] 3...Cc6 4.Cf3 g5 Sem dúvida, o mais lógico. As negras ganharam um peão, mas tem de ceder as brancas a possibilidade inevitável de jogar d4 e assegurar o centro. É justo que tratem de compensar isto com a vantagem material. 5.0-0 d6 6.d4 Bg7 7.c3 h6 A primeira vista, parece que Grunfeld chegou a seu propósito, já que o peão ganho esta solidamente apoiado, e possui uma cadeia de peões aparentemente invencível, enquanto as peças da ala da dama branca tem dificuldade em desenvolvimento, especialmente por causa da força de contenção do peão negro em f4. Mas não devemos nos contentar com isso. Devemos procurar um plano de ação. Note que há um ponto na posição negra que esta atacado pelo bispo do rei, e se não houvesse o peão em f4, estaria atacado pelo bispo e pela torre. Este ponto é sempre a conjugação das linha geométricas: a ação diagonal do bispo se encontra com a horizontal da torre nesta casa; este ponto é chamado de ponto de coincidência das peças, que é a casa f7. Temos, agora, traçado o plano. O que devemos fazer é tratar de desalojar o peão f4 e devemos fazer imediatamente, já que a medida que a partida avança se fará mais poderosa a força da vantagem material negra (um peão). Assim deve ter raciocinado Spielmann 8.g3 Sem temer a debilidade de seu roque, pois sabe que o domínio da coluna "f" deve ser mais valioso. 8...g4 As negras não querem ceder às brancas a coluna "f" e tentam colocar um fortíssimo peão na sexta fila (peão defendido por outro peão). 9.Ch4 f3 10.Cd2 Bf6 Ameaçando BxC, eliminando o incomodo cavalo, apesar de estar quase inativo em h4. Mas Spielmann viu isto e abrirá quase a força a coluna "f" que vale muito mais que a peça entregue. Aprofundando um pouco, veremos a simplicidade e lógica do sacrifício. O cavalo em b1 não servia para outra coisa senão entorpecer sua própria torre. As brancas tem um plano geral que esta dificultado por um bloqueio de peões que só pode ser destruído pelo sacrifício e o adversário não desenvolveu suas peças, preocupado com o avanço de peões, e segundo Tarrash: "os movimentos de peões na abertura significam perda de tempo". Então a superioridade em tempo é a justificativa deste sacrifício, que também vai assegurar vantagem em espaço, pois as brancas dominam um amplo setor da tabuleiro. 11.Cdxf3 gxf3 12.Dxf3 Th7 O primeiro erro sério de Grunfled. O melhor era Bh6, seguido de Dd7 e O-O-O, para sair com o rei da zona atacada. Mas Grunfeld não vê a urgência desta estratégia, e sua lentidão em defender-se será explorada por Spielmann. 13.Cg6 Notável manobra para salvar o cavalo e coloca-lo numa casa mais poderosa. 13...Tg7 14.Cf4 Bg4 15.Dg2 Bg5 É interessante observar que as brancas entregaram um peça e os resultado não podem ser vistos ainda. Foi simplesmente um sacrifício com finalidade estratégica tendo como meta desorganizar a posição adversária. 16.h3 Bd7 [16...Bxf4 17.Bxf4 Bd7 18.Tae1] 17.Ch5 Th7 A posição é muito instrutiva. As negras tem uma peça a mais, porém as brancas possuem superioridade agressiva na zona central do combate. As brancas conseguem livrar linhas para sua torre e seu bispo bispo pressiona o peão f7 adversário. Agora, conhecendo a importância das linhas abertas nas partidas de ataque, realizam uma manobra magistral: em lugar de acumular forças sobre um ponto atacado, tratam de abrir novas brechas antes que seu adversário possa achar solução para seus males por meio do roque grande. Por esta razão seria mau Df3, porque as negras jogariam De7 para rocar. Para que obrigar o adversário fazer um bom lance ? E isto que parece tão simples é a causa de muitas derrotas entre aficionados. 18.e5! Dando a dama branca a casa e4, e dela pode-se atacar a torre do rei, que é toda a esperança defensiva negra. Novamente, a importância das aberturas de linhas. 18...dxe5 19.De4 f5 20.Txf5! Spielmann segue entregando material para definir a luta a seu favor antes que seu rival afirme sua condição defensiva. Observe como aumentou a força agressiva do bispo do rei branco e como a torre será recapturada com vantagem para a dama branca. Que importa perder uma torre se elimina-se um bispo poderoso, se desfaz a configuração de peão que podia apoiar o rei e pode-se trazer rapidamente a outra torre para a luta? 20...Bxf5 21.Dxf5 Te7 22.Bxg5! hxg5 23.Tf1 As brancas não se apressaram a capturar o cavalo, mesmo porque este não tem aonde ir, já que esta atacado, e é necessário para evitar a ameaça Cf6+, e que, por outra parte, se for a h6 poderia ser capturado. Com uma torre a menos, mas todas as suas peças coincidem no ataque sobre o roque e as negras não podem coordenar suas forças para defender-se bem. Não há, em realidade, a desvantagem de material, porque as forças brancas que atacam são superiores as que defendem e o adversário não pode reunir rapidamente seus efetivos para defender-se. 23...Dd6 24.Bxg8 exd4 25.Df8+ Rd7 26.Dxa8 As brancas recobraram o material e contam com uma peça a mais de vantagem. O resto não tem importância para o tema que tratamos aqui. 26...Dd5 27.Cf6+ Rd6 28.Df8 De5 29.Rg2 d3 30.Tf2 De1 31.Dh6 1-0 |